Atlântida

Passados três dias ainda continuava tudo na mesma.
Caixotes por abrir empilhavam-se pela casa, enquanto que outros estavam já abertos e quase vazios, o seu conteúdo espalhado no chão em redor. Havia também sacos por todo o lado, cheios e vazios, a um canto ou no meio do caminho.
A minha casa nova.
Ele prometera que mal eu me mudasse ele arrumaria tudo e tiraria as coisas dele do meu quarto.
As minhas malas estão aos pés da cama, por desfazer, o armário cheio de coisas que nunca o vi usare toalhas que não são usadas há anos. Pelo menos já o convenci a mudar os sacos e pilhas de roupa que estavam amontoados em cima da cama e eu própria pus os objectos que não pertenciam ali no quarto vazio ao lado do meu.
Passo o tempo todo no meu quarto. Ele está fora o dia quase todo, no trabalho, e não há melhor divisão da casa para mim. Já o consegui tornar um pouco mais meu: limpei-o cuidadosamente e pus alguns desenhos e pequenos quadros na parede. Em cima da mesa estão umas molduras, uma com uma fotografia do meu grupo de amigos da escola e outra em que estou com umas amigas de Cascais com quem vou ter muito menos oportunidades de estar agora.
Há uma pequena secretária junto à janela onde me sento a desenhar o tempo todo. Não tenho dúvidas de que nestes três dias tenho estado a fazer o meu melhor desenho. É um cenário submarino, uma Atlântida perdida povoada por uma espécie de sereias brancas e prateadas. Por trás, quase rodeando a cidade, está um megalodonte, parecendo um guarda.
A minha Atlântida é branco-marfim e com muitas torres de aspecto asiático, com abóbadas redondas e um espigão no centro. Do lado esquerdo da cidade há uma pequena floresta submarina e, do outro, campos de cultivo cuidadosamente organizados pelas cores das algas plantadas.
Não posso deixar de olhar para a cidade que desenhei e de ver nela um género de prisão bela, quase perfeita, o olhar atento do megalodonte a vigiar tudo e todos.
Quem me dera que esta casa fosse assim tão bela.



Façam perguntas à vontade, só provavelmente não respondo.

Rita, podes ir começando a pôr mãos à obra : D