terça-feira, 9 de setembro de 2008

título.

Primeira noite na casa nova e já não me sentia a mesma.
A minha companheira de casa já dormia no único quarto quando me olhei ao espelho da casa de banho e mal me reconheci.
Uma das piadas recorrentes de quando andava na escola fora o facto de eu ter o cabelo mais curto que o do meu próprio namorado, mas agora já me passava dos ombros. As lentes de contacto, que eu sempre usara por considerar mais prácticas, tinham sido trocadas por óculos pretos, semi-rectangulares e de aros grossos.
Realmente, não só a minha aparência como a minha vida tinham mudado bastante nos últimos cinco meses. Desde que acabara a escola.
Nunca fui grande aluna. Não porque não conseguisse, simplesmente porque nunca me importou. O meu futuro não dependia da escola e eu sabia-o.
Deixei a escola pouco depois de fazer 18 anos - apesar de tudo tinha feito o 12º ano. Nesse momento até estava a ganhar o meu dinheiro pois já há mais de um ano e meio que conseguira um papel numa série na televisão. Era uma série policial, uma imitação rasca de todas aquelas americanas, mas no entanto eu adorava aquilo. Não a série em si, mas participar nela. Era divertido e sempre dava para escapar de tudo.
As gravações acabaram passado um mês e eu comecei à procura de um novo emprego.
Trabalhei numa loja perto de casa. Da casa dos meus pais. Ia juntando todo o dinheiro que angariava, mas não era suficiente para uma casa. Comecei a trabalhar num restaurante à noite. O meu aspecto começou a alterar-se devido à falta de tempo. Acabei com o meu namorado e comecei a ver cada vez menos os meus amigos. Quase sem me aperceber tinha vindo a entrar naquilo que sempre quisera evitar - uma vida monótona de cidadão comum. Mas não parei. Queria sair de casa. Queria ter a minha independência. Depois trataria da liberdade.
Ao fim de três meses de trabalho intenso, a loja fechou. Resolvi aproveitar o meu novo tempo livre durante uns momentos e saí com os meus amigos que se fartaram de comentar como estava diferente. Foi nessa altura que conheci a Sara, que também estava a tentar sair de casa.
Acho que nos demos bem quase imediatamente. Ela era o tipo de pessoa com ar simpático. Tinha cabelo ruivo atado num rabo-de-cavalo e a cara coberta de sardas. Vestia-se de de maneira comum, sem dar muito nas vistas.
Não tinha as orelhas furadas.

Pode parecer estranho, mas é uma coisa em que reparo sempre - os furos (ou não) nas orelhas e os brincos neles postos.
E uma coisa posso afirmar, pessoas com um furo naquilo que em inglês se chama "tragus" e com um piercings coloridos lá enfiado NÃO são o meu tipo. Não sei explicar.

Arranjei mais um emprego de dia - numa engomadoria. Okay. Não gozem. Foi o que se arranjou.
Entretanto a Sara e eu estávamos decididas a encontrar casa. Não demorou muito até descobrirmos este apartamento, um T1 no meio de quase nada, mas com uma paragem de autocarro em frente ao prédio e perto da engomadoria.
Acordámos que ela dormia no quarto e eu na sala, num sofá-cama.
Tudo parecera tão perfeito.
Mas naquele momento, em frente ao espelho, começava a ter as minhas dúvidas. Odiei a minha aparência pouco familiar. Era raro olhar-me ao espelho.
Reparei no elástico que a Sara deixara em cima do lavatório e ocorreu-me uma ideia, sem dúvida um pouco estúpida, mas que de certa forma correspondia aos meus sonhos de liberdade.

Atei o cabelo e fui buscar uma faca. Acho que não preciso de descrever o que fiz exactamente.
Apesar de ter ficado com uma boa parte do cabelo na mão, o que não tinha cortado ainda chegava quase ao queixo. Estava irregular e estranho, mas gostei dele. Até já os óculos me pareciam ficar melhor. Deitei o cabelo que tinha na mão fora, pus o elástico onde o encontrara, guardei a faca e fui dormir.

No dia seguinte recebi um telefonema. Tinham visto a minha actuação na série e queriam-me contratar para um filme para um papel relativamente importante, apesar de nem ter estado no Conservatório.
Um filme!
Talvez aquilo não fosse a minha tão falada liberdade.
Mas talvez pudesse ser um pouco de felicidade.
Aceitei.
Estava a voltar a ser eu outra vez.



(Todos os nomes, factos e acontecimentos referidos no texto anterior são pura ficção.)

Oh Lizzie, o teu blog inspira-me. Espero que me inspire para uma coisa melhor que esta :\

2 comentários:

LA disse...

Tenho de admitir que a parte do cabelo curto e dos óculos fez-me lembrar o meu 6º ano.
Eu não sei como é que o meu blog pode inspirar alguém. Seja como for, acho que podias ter adicionado mais detalhes da mudança da rapariga, ou então podes sempre continuar o que já começaste e tornar tudo mais drástico. Se fosse eu destruia a vida da personagem hahaha xD nem vou dar exemplos porque pronto.

LA disse...

Já ninguém aposta para perder.
Só por acaso, aprendi a escrever schizophrenia primeiro em inglês e depois é que aprendi em português. Estranho... mas é verdade. (: