quinta-feira, 28 de outubro de 2010

OH NÃO, TÍTULO

Nuninho, é este aqui :}

Foi uma semana de férias perfeitamente normal. Igual às outras. Até quinta-feira, quando o mundo da Alice se desmoronou. Mas ela fez de conta que não dava por nada.
Ia mudar de casa nessa semana. Não realmente mudar de casa, apenas começar a passar a semana em casa do pai, em Lisboa, e não em casa da mãe, em Oeiras, porque ia para a universidade e era muito mais próximo. Começou a preparar tudo na quarta, visto que as malas ainda davam trabalho e havia muita coisa que queria levar. Na quinta-feira largou tudo e foi ter com a Sofia.
A Sofia não ia para Lisboa, ia para o Porto, e portanto iam passar a ver-se muito menos, mas a Alice não tinha achado que isso seria um problema. Estava a disposta a fazer todos os esforços para que não se afastassem. A Sofia era a pessoa mais importante no mundo para ela. Por isso quando soube que ela não tinha qualquer intenção de lutar pelo relacionamento delas teve vontade de se atirar de uma ponte. Mas não o fez. Em vez disso voltou para casa e continuou a preparar as malas.

A Alice não gostava de rapazes. Nunca vira qualquer interesse no sexo masculino: sempre achara que apenas as raparigas mereciam algum tipo de atenção. Nem o pai dela fugia à regra. Por isso ficou espantada consigo própria quando na segunda-feira achou que um rapaz estava a ser simpático quando ele a agarrou, arrastou até ao bar e lhe pagou um croissant por ela quase ter desmaiado de fraqueza. Mal tinha comido nos últimos três dias. Também não tinha tomado banho e tinha dormido cerca de dez horas no total. Tinha passado o tempo todo sentada no colchão que era a cama dela em frente à televisão a jogar. Tinha os olhos ligeiramente desfocados e uma dor de cabeça permanente.
O nome do rapaz era Cláudio.

A melhor parte de viver em casa do pai dela era o facto de ele raramente estar em casa. Nem reparava se ela dormia ou comia ou fosse o que fosse. Ela fazia o que lhe apetecia. E o que lhe apetecia era ficar ali sentada sem mexer nada além dos polegares, com os olhos sempre quase a fecharem-se, no quarto que tinha um aspecto quase pós-apocalíptico. A pior parte do dia era quando o despertador que ela tinha posto para a hora de sair começava a tocar. Aí tinha de largar tudo, trocar o pijama que vestia mal chegava a casa por roupa lavada ou com aspecto lavado, comer qualquer coisa e sair.
Ia a pé até à faculdade. Podia apanhar autocarro, ainda era uma caminhada grande, mas se o fizesse podia adormecer no caminho e perder a paragem. E ela gostava do ar frio da manhã que contrastava com o calor do apartamento a precisar de ser arejado. Mas abrir as janelas dava demasiado trabalho. Tudo o que implicava levantar-se dava muito trabalho.
Chegava à faculdade cansava e ofegante, mas não se importava. Entrava na sala, normalmente um auditório, sentava-se confortavelmente e esforçava-se por não adormecer enquanto os professores debitavam matéria. Depois ia para casa e voltava ao jogo. Não era propriamente uma rotina. Pelo menos não era uma rotina como deve ser. Era um desperdício de tempo.
O Cláudio tinha uma rotina. Todos os dias acordava às 7h, tomava o pequeno-almoço, tomava banho, apanhava o autocarro, chegava à faculdade antes da hora, ia até ao bar comer mais qualquer coisa, ia para as aulas (às quais prestava o máximo de atenção), voltava para casa, almoçava, estudava, jantava, ia para o computador duas horas e deitava-se às 23h. Às sextas-feiras à noite também saía com os amigos durante duas horas e meia. Tudo a horas certas, sempre. Era o orgulho da família.

Ele sentava-se ao lado dela às vezes e falava com ela. Estranhamente, ela dava por si a responder-lhe sempre de forma simpática, a gostar das conversas deles. Ele era inteligente e divertido. E um dia perguntou-lhe porque é que ela estava deprimida. Ela não soube o que lhe responder. Ela até queria, mas não conseguia. Por uma razão simples mas estúpida: não conseguia encontrar uma palavra para definir o que é que a Sofia tinha sido para ela. Pura e simplesmente nunca tinha havido ninguém tão importante para ela. Nunca sentira a necessidade de lhe dar um nome. Outra pessoa chamar-lhe-ia "namorada", mas ela achava isso ridículo. Melhor amiga também não chegava para cobrir tudo aquilo que ela era. Porque ela era tudo.
O que a Alice respondeu ao Cláudio foi que não lhe conseguia explicar. Mas sorriu-lhe. E disse-lhe que talvez um dia conseguisse.

A Sofia ligou na sexta-feira da quinta semana. A Alice não atendeu o telemóvel. Desligou-o e não o tornou a ligar.

Na segunda-feira da sexta semana chegou a casa e foi comer. Depois enfiou-se na banheira e tomou um banho de imersão com água que ficou logo quase fria. Adormeceu lá dentro e acordou toda arrepiada com a água gelada. Saiu da banheira, vestiu um pijama lavado e foi dormir para o colchão.
Terça-feira saiu mais cedo de casa. Viu o Cláudio a chegar à faculdade. Também viu o autocarro a ir depressa de mais. Correu, empurrou o Cláudio para a frente e pensou, Sofia és uma estúpida.


Nota: Ela não tem nada a ver comigo. Seriously.
E esta Alice não tem qualquer relação com qualquer outra Alice que possa aparecer por aqui. Esta Alice nem se devia chamar Alice.

4 comentários:

Nuninho xP disse...

Ohh que querida, assim não tive de me esforçar muito para encontrar xD
Está muito fixe! Fiquei foi com pena da Sofia.. Tadinha.. Deste-lhe um papel mesmo mau, ela não merecia.. xP

Quem quer saber? disse...

Podias ter chamado Ermelinda ou Esmeralda ou Francisca a Alice. xD
Eu fiquei com "os olhos ligeiramente desfocados"...:P

(Não justificas o texto?)

Quem quer saber? disse...

Olhos desfocados por causa do tamanho da letra xD

Hoje vais escrever mais cedo?
Eu não tenho escrito todos os dias ups :S

JMSF disse...

Como não tem nada a ver contigo?!