sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Vinte e Cinco

Vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete.
Estava a chover torrencialmente lá fora e o som da chuva, ao contrário do habitual, estava a enervá-la ainda mais. Não conseguia parar de mexer as mãos e as pernas e olhava para o relógio de dois em dois minutos.
Vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete. Quero ir para casa.
A rapariga sentada ao lado dela lançava-lhe olhares interrogativos e confusos de vez em quando mas não lhe dirigiu a palavra.
Rodou o relógio no pulso e o seu olhar prendeu-se na pulseira de borracha.
Vermelho. Vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete. Casa.
Esfregou os olhos. Palavras sem sentido repetiam-se e baralhavam-se na sua cabeça. Tentou concentrar-se num único pensamento.
Quero ir embora tão depressa quanto possível. Vinte e cinco, vinte e seis… Não! Pára com isto! Não trouxe chapéu de chuva e vou a pé para casa. Vermelho, vinte e cinco.
Fechou os olhos numa tentativa de silenciar a voz interior que pronunciava as palavras disparatadas.
Vinte e cinco quê? Vinte e seis quê? Que tem o vermelho?
Abriu os olhos e o mundo apareceu-lhe desfocado e confuso. Apercebeu-se de que estava com calor mas sentiu um arrepio quando começou a despir o casaco. Perguntou-se se estaria doente. O seu estômago contraía-se cada vez mais e a respiração estava a acelerar por causa dos nervos.
Quais nervos? Porque é que estou nervosa? Vinte e cinco…
Suspirou em exasperação e tornou a olhar para o relógio. Nove minutos até à liberdade. O pior já tinha passado.
Pegou num lápis e rabiscou formas abstractas e feias, com traços demasiado carregados.
Quero ir para casa. Vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete.
Teve a súbita sensação de que se abrisse a boca só sairiam disparates. Se alguém lhe perguntasse a sua opinião sobre qualquer coisa a resposta mais provável seria algo como “Está a chover vermelho.”
Está a chover vermelho.
Casa, casa, casa.
Começou a escrever o seu nome mas parou a tentar lembrar-se se era com S ou Z e acabando por chegar à conclusão que Raquel não levava nenhum. Abanou a cabeça com violência, assustando a rapariga ao lado.
Estão todos a olhar para mim. Pelo menos parece. Vermelho. Olhos vermelhos? Não, chuva. Quero ir para casa. Vinte…
A campainha tocou de repente e ela deu um salto. Tinha parado de olhar para o relógio uns minutos antes
Quantos?
e perdera a noção do tempo. Reparou que metade das pessoas já se tinha ido embora e precipitou-se também para fora da sala e do edifício em direcção à chuva cerrada que caía. Correu o caminho todo até casa onde chegou encharcada. Atirou-se para o chão do corredor e ficou a molhar a madeira até que arranjou coragem para se levantar e ir almoçar.
Está a chover vermelho, vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete.




Estou a tentar cortar nos advérbios. Será que me podem dizer mais ou menos quantos há? ._.

1 comentário:

Quem quer saber? disse...

lol XD !!!

Está fantástico!!

Tenho saudades tuas :S

beijinhos*