- Acorda.
Abri os olhos. O meu pai estava de costas para mim, junto à janela. Era altura de partir, de deixar para tudo para trás. Era sempre assim.
Não sei o que é que ele procurava. Nunca percebi. A verdade é que mal eu me começava a habituar a um sítio, ele acordava-me de madrugada e obrigava-me a partir.
Eu não queria ir. Eu nunca queria ir. Eu nem sequer gostava do meu pai. Nem mesmo enquanto a minha mãe ainda estava viva. Ele sempre fora distante e estranho, arrastando-nos de um lado para o outro interminavelmente. Depois a minha mãe morreu e nada mudou. Ele não parecera triste ou feliz com a morte dela; simplesmente agia como se não tivesse sido nada com ele. Continuámos a viajar.
Eu devia andar na escola, mas nunca lá tinha posto os pés. Aprendera a ler, a escrever e alguma matemática com a minha mãe e tudo o que conhecia do mundo vinha da minha própria observação. Não sabia como seria se alguma vez começasse a ter uma vida normal.
Nunca percebi onde é que o meu pai arranjava o dinheiro, mas a verdade é que ficávamos sempre em quartos de hotel bastantes decentes e comíamos em restaurantes com bom aspecto. Também nunca nos faltavam roupas ou sapatos. Vivíamos bem, só nunca no mesmo sítio por mais de dois meses.
Viajávamos sempre em transportes públicos, principalmente autocarros. O meu pai comprava dois bilhetes para a última paragem e saía na paragem cujo aspecto lhe agradava mais, normalmente paragens movimentadas e de aspecto moderno. Muitas vezes eu nem sabia onde estava.
Partimos de comboio, naquele dia. Estávamos em Junho e o tempo começava a aquecer, mas as madrugadas continuavam geladas. As ruas estavam desertas, mas viam-se vultos nalgumas janelas, que eu invejava profundamente. Mas o meu pai não parava um segundo e eu também não, com medo de que ele não reparasse que eu ficara para trás e se fosse simplesmente embora.
Quando chegámos à estação, o sol já começava a subir e eu estava a morrer de calor debaixo das minhas roupas quentes. O meu pai comprou bilhetes para qualquer lugar, nem reparei, não me interessava, e entrámos no comboio passado pouco tempo. Instalei-me no banco e o meu pai sentou-se ao meu lado, com um jornal que eu não sabia de onde viera na mão.
- Acorda.
Abri os olhos. O meu pai estava de pé ao meu lado com as malas nas mãos.
- Saímos aqui. Vamos.
Levantei-me e segui-o para fora do comboio. Parei durante um momento a tentar habituar-me à luz súbita. O meu pai estava à minha frente a olhar para mim, e reparei pela primeira vez como ele estava a ficar grisalho e como as suas costas se começavam a curvar ligeiramente. O tempo estava a começar a vencer e eu soube que a nossa vida teria de mudar em breve.
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4 comentários:
Gostei, mas pareceu-me curto... Queria mais!! >.<
Se no fim não tivesses falado no aspecto do sr. Ainda dizia que ele era fugitivo da interpol por ser um serial killer
muahahahaha >:D
ando a ver muitos filmes XD
*
:)
Tenho saudades tuas...
bjinho fofinha
Laura! Gostas de Meg Cabot?!
(tou a perguntar porque tive a cuscar o vosso blog de Inglês).
Ah ok.
Eu tenho, praticamente todos os livros dela.
Gosto muito das personagens femininas dela. Apesar de muitas vezes as histórias serem só do tipo "boy meets girl", as heroínas são sempre super inteligentes.
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