quinta-feira, 23 de outubro de 2008

vírgulas

E de repente estamos a cair. Estamos a cair e a cair e a cair e não pára, é como aqueles sonhos que muita gente diz ter, onde há quedas intermináveis. Nunca tive um sonho desses, só ouvi falar, roubo sonhos de outras pessoas, talvez por os meus serem tão desinteressantes, sem significados que consiga descodificar, e sonhos recorrentes, nunca tive sonhos recorrentes, e sempre invejei quem os teve. Como sempre invejei quem tem amigos de infância, amigos desde sempre como os têm as personagens de mil livros e filmes. Não tenho nada disso, tenho-te a ti neste momento e o chão que desapareceu sob os nossos pés, mas talvez na verdade isto seja um sonho, um sonho meu, se não for que explicação há para o facto dos teus olhos estarem tão vermelhos, como se alguém tivesse agarrado num pincel vermelho e pintado o branco? E as tuas roupas já não são as mesmas, mudam a cada metro que caímos, mas como sei quando caímos um metro? Talvez não seja, talvez seja só a minha imaginação, vejo coisas onde elas não existem, sinto coisas que não são reais, se calhar nem estamos a cair, o teu cabelo está imóvel e não em pé como o das pessoas que caiem, de facto não há o mínimo vento, não há nada, estamos aqui parados e pergunto-me como é que alguma vez pude pensar que caíamos quando estou aqui de pé desde sempre, desde o princípio do mundo a olhar os teus olhos, que jamais estiveram vermelhos, são apenas olhos, comuns, mas únicos por serem os teus, perfeitos imperfeitos neste mundo que gira e gira, tão depressa que deixamos de ser reais, já não existimos e flutuamos levemente levados pela brisa que não é mais que o vento que a Terra provoca ao girar. Só agora me apercebo que somos tão grandes, pois de outra forma nunca sentiriamos o planeta na sua rotação, somos gigantes mas o céu continua longe, a lua ao fundo, mas de repente conseguimos ver muito mais, outras estrelas e galáxias nunca por nós observadas, mas os meus olhos tornam a encontrar os teus involuntariamente, e somos só um rapaz e uma rapariga perfeitamente normais sentados numa sala, a tua irmã ao teu lado e o meu professor ao meu, e nunca nos conhecemos, nunca nos vimos antes, nunca ouvimos a voz um do outro e tu sais com ela pela porta de vidro e nunca mais te torno a ver.
Adeus, desconhecido.

2 comentários:

Mariana disse...

Tu adoras-me pá! :]

Anónimo disse...

Não vejo nenhum sinal de loucura, está bestial man! Estranho...mas fixeeee =) Beijinho AL